3 Haikai 3000

Quase todos nós, quando conhecemos bem uma pessoa, e queremos conhecê-la um pouco mais, fezemos algumas perguntas básicas. Uma delas é "qual a sua cor preferida?". Uma coisa que eu tive pensando agora, quando comecei a escrever esse post, depois de escrever o título (que normalmente defino antes e, às vezes, mudo antes de publicar) é que ninguém pergunta "qual é o seu número preferido?".

Também, quem é o maluco que vai ter um número preferido? :) Bom, se alguém aí tiver, não se sinta ofendido, pois eu estou falando de mim mesmo (mas certamente se você já pensou sobre isso e já escolheu um número preferido, saiba que lhe considero um maluco também - um maluco beleza, como diria Raul Seixas, mas um maluco com certeza). :)

Bom, minha cor preferida é azul - mas ultimamente tenho gostado cada vez mais de laranja e verde (a combinação que uso aqui no Pensações). E, do mesmo modo que com as cores, meu número preferido é o três - 3 - mas também gosto muito mesmo do número 9. Já falei um pouco sobre isso em janeiro desse ano. Se vocês forem nos posts de Janeiro, encontrarão algo por lá.

Bom, mas estou hoje por aqui para duas coisas (por incrível que pareça, eu não iria escrever sobre números) Comecei a escrever esse post para falar sobre poesia e sobre agradecimento.

Primeiro seria para falar que descobri um tipo de poesia que nunca tinha ouvido falar e queria compartilhar com vocês a minha descoberta (que sei que não é a descoberta do século pois talvez muitos de vocês já a conhecessem antes de mim). É um tipo de poesia japonesa chamada no original de Haiku e em português é chamada de Haicai ou Haikai. Um dos mestres de Haikai mais conhecidos chama-se Basho e o Haikai no início do post é dele. Entretanto, não me perguntem o significado, pois na página onde encontrei o homem diz que se a gente quiser realmente saber, teremos que perguntar a um japonês que fale a noss alíngua e que, de preferência, tenha muita experiência de vida. Bom, fica o desafio...

O Haikai é uma poesia marcada por regras bem determinadas no original, mas que, como tudo, já foi bastante alterada pelos modernistas, concretistas, e os istas da vida que temos por aí. No original, o Haikai é uma poesia de três versos bem divididos. A primeira linha tem que ter cinco (5) sílabas poéticas, a segunda linha tem que ter sete (7) linhas poéticas e a terceira e última linha tem que ter cinco (5) linhas poéticas, somando um total de 17 sílabas poéticas que devem fazer sentido, é natural.

Entretanto, as regras não param apenas na formação, mas também no conteúdo. O original Haikai não pode tratar de qualquer coisa, mas da relação do homem com a natureza sem, entretanto, demonstrar sentimentos diretos. O poema deve usar de comparação para buscar uma melhor compreensão do papel do homem no mundo.

Duas outras coisas bastante importantes no Haikai é que os japoneses sempre procuram escrever de forma a mostrar ao leitor em que estação o poema foi escrito. Naturalmente nada direto, mas através das palavras e das imagens mentais que fazemos das palavras usadas nas três linhas. O último detalhe que me lembro agora - e que é fundamental - é que o Haikai, no final de tudo, deve ser entendido como uma pintura, que a gente fica olhando extasiado e observando os detalhes. Num Haikai bem escrito, teremos um aimagem tão bem "pintada" que podemos ficar olhando (lendo) por vários instantes e continuar encontrando novos detalhes na "figura pintada com palavras".

Vou colocar aqui três exemplos de Haikai. O primeiro encontrei num site brasileiro sobre o assunto e foi feito em português diretamente. Autora, Suemi Arai.

uma borboleta
na minha pequena rua
uma floricultura

O segundo é uma tradução minha de um Haikai original feito em inglês. Autora, Elisabeth St. Jacques.

primeira neve
o jardim negligenciado
agora perfeito

O terceiro é de Basho. Encontrei em inglês e adapto para o português. Certamente perde conteúdo na tradução se sabemos o significado original em japonês e certamente perderá ainda mais do significado com a minha tradução para o português, mas...

apenas os cajados
dos peregrinos são vistos caminhando
através dos campos de verão

Três haikai (usa-se a mesma palavra para o plural e para o singular) de três linhas cada. E três pontos que terminam essa frase para completar nove, meu segundo número preferido...

Bom, agora vocês entenderam um pouco do porquê de eu ter falado sobre o três. Mas, e o 3000 do título? Bom, além de também ter a ver com o número 3, é que ontem o Pensações atingiu a incrível marca de três mil acessos desde 11 de julho desse ano. Isso dá uma média quase 30 acessos por dia. Poxa, que legal.

Assim, queria muito mesmo agradecer a todos vocês que têm sido fiéis e vindo por aqui ler um pouco das coisas que gosto e que gosto de compartilhar. Acredito sinceramente que é compartilhando que crescemos.

Assim, mais um vez, obrigado de coração. E, para não perder o costume...

Três beijos, três abraços e três vivas para vida bela que temos ainda pela frente.

Comentários

Anônimo disse…
Parabéns pelo 3000 acessos, agora já são 3050. Um blog tão bem escrito merece muito mais, vida longa ao seu blog amigo. Qto ao haikai, tb não sei o significado da palavra.bjs
Anônimo disse…
Ah Tatá, adoro haikai! Tenho um livro deles em casa, e até já tentei escrever uns, mas fui pego pela métrica, hehe. Acho o conceito e o resultado muito legal, e de tão simples, surpreende.

bjão!

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