Eu e o próximo

Num estudo recente feito por uma universidade australiana (UQ) foi descoberto que os jovens que seguem uma crença mais tradicional em Deus têm menor probabilidade de terem problemas comportamentais em comparação com os que seguem uma idéia de que existe uma força espiritual superior que não seja Deus.

Além disso, o que nos pareceu mais interessante na pesquisa, é que esses mesmos jovens que não acreditam no Deus "tradicional" normalmente são mais individualistas. E, também segundo o estudo, essa é uma tendência geral das pessoas que acreditam numa espiritualidade não religiosa.

A pesquisa ainda afirma que esse foco na realização pessoal sem a preocupação com o bem estar do próximo é que poderia minar a saúde mental das pessoas. Essa dificuldade faria com que as pessoas se sintam mais isoladas, tenham a saúde mais fragilizada e com relações interpessoais mais pobres em relação aos que primeiro procuram buscar a melhora do coletivo para só depois (ou durante, no processo) fazer a transformação íntima.

A pesquisadora, Dra. Aird, levanta uma questão muito interessante sobre esse tema de que hoje muita gente envolvida da nova espiritualidade se volta mais para a idéia de que a transformação íntima irá levar a uma mudança positiva na pessoa e na sociedade, por conseqüência. Ela pergunta: "Mas há uma contradição [nessa idéia] - como alguém pode mudar a sociedade se está concentrado apenas em si mesmo?"

O Dalai Lama, em um de seus livros (ou foi em uma palestra? - me falha a memória agora), disse algo que me chama a atenção até agora e que tem tudo a ver com o resultado dessa pesquisa. Ele fala que, quando questionado sobre o Cristianismo, os cristãos fizeram e fazem algo que o impressiona ainda hoje quando colocados em comparação com os budistas. Por onde quer que ele tenha andado, em qualquer cidade, em qualquer país, onde houvesse uma igreja cristã, sempre havia instituições desenvolvidas e mantidas pela igreja (ou por seus adeptos) voltadas ao auxílio ao próximo.

Podemos perceber, portanto, que não é preciso nem sermos religiosos para percebermos que a saída de si mesmo é necessária para que possamos resolver alguns dos maiores males da humanidade, o egoísmo (egocentrismo e sentimentos egóicos) e o orgulho decorrentes dessa tendência que temos de nos acharmos o centro de tudo e que daí derivam a maioria (para não dizer todos) dos problemas humanos.

Quando aprendermos realmente que somos indivíduos, mas que em fazendo parte de uma sociedade devemos trabalhar e viver em harmonia com todos, buscando a cada dia fazer a nossa parte sem esperar que o outro faça a sua, veremos como isso fará diferença no que percebemos como sendo felicidade.

Sigamos, portanto, a regra áurea, ditada pela maioria absoluta dos pensamentos religiosos e filosóficos até hoje registrados: "Ama o teu próximo como a ti mesmo" e
"Fazei aos outros o que gostaríeis que eles vos fizessem".

Ah, um último detalhe. Vale salientar que a pesquisa científica foi feita por uma pesquisadora agnóstica.

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