Antiga língua tribal entra em extinção pois sua última falante morre

Boa Sr, última falante da língua BO.
Foto retirada do site Guardian.uk
Antiga língua tribal entra em extinção pois sua última falante morre - World - Guardian.uk

É triste quando a gente encontra situações assim no mundo.

De acordo com o site do jornal Guardian da Inglaterra, a última falante nativa e fluente no idioma Bo das Ilhas Andamão morreu no final de Janeiro e com ela, o idioma se tornou extinto. Me peguei pensando sobre a vida quando li essa reportagem.

Ainda hoje eu não consigo me definir sem incluir a língua que eu falo na minha definição pessoal. As expressões que utilizo, o modo de falar, o sotaque... Tudo isso faz parte de quem sou. Ou talvez melhor, de quem estou...

Entretanto, ao mesmo tempo que pensava nisso, pensei que quando a última pessoa que fala uma língua, qualquer que seja ela, se vai, aquele sotaque, aquelas expressões, o modo de falar, vai com ela. Assim, por que será que é tão importante a língua que parte?

É interessante pensar em o quanto somos apegados às coisas que temos e que achamos que somos. No entanto, se não fosse pela nossa imensa capacidade de adaptação, de mudança, de transformação, não mais estaríamos aqui. É desse modo que percebemos, portanto, que para que uma língua permaneça conosco ela precisa continuar viva, se adaptando, crescendo, mutando, mudando... Senão, vai virar peça de história, de museu.

Assim, percebo que a perda da língua, na verdade é ruim pois perdemos um pouco da diversidade cultural humana. No entanto, podemos também perceber que é essa mesma diversidade cultural e linguística que muitas vezes nos separa mais que nos une. Basta ver algumas das grandes guerras culturais que temos pelo mundo para observarmos isso.

O problema, acabo pensando, então, não é a língua ou a diversidade delas, mas a nossa impertinente defesa de nossos costumes, culturas e bairrismos que nos separam mais que nos unem. No dia em que verdadeiramente conseguirmos sentir o outro - seja ele quem seja, fale ele que língua fale, vista-se de qualquer modo, seja dessa ou daquela cultura - como alguém que é exatamente como eu, que bebe, come, dorme e acorda, que sonha e trabalha, faz xixi e cocô, teremos uma chance maior de minimizar a diferença que achamos existir entre eu e ele.

Uma língua pode ser uma grande barreira, mas ao mesmo tempo pode ser uma grande oportunidade de nos aproximarmos do outro, de conhecê-lo mais e até, de conhecermo-nos mais e melhor. Digo isso pois várias expressões que aprendemos de outras línguas podem nos fazer pensar de maneira diferente e abrir a nossa mente para uma maior inclusão no mundo do outro, nos trazendo mais para o nosso mundo íntimo. Dessa mistura, portanto, podem sair diversas novas compreensões e daí surge a mudança.

Assim é que falo essa situação é muito triste. Não apenas a extinção de um idioma, mas morte de mais um ser humano que poderia ser capaz de nos ensinar muito mais do que uma língua é capaz de nos mostrar. Ela certamente ensinou muito a muita gente e, nesse momento, continua a ensinar. 

Pelo menos a esse que escreve nesse momento.

Até logo Boa Sr. E muito obrigado pela lição que me deixou.

Um abraço linguístico em todos.

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