O que é ruim é sempre ruim?

Folha Online - Mundo - Tsunami revela os restos de império que dominou a Índia - 12/02/2005

É engraçado como nós temos uma tendência a sermos maniqueístas.

Alguém aí sabe o que é Maniqueísmo? :) Eu sabia, mas fui conferir para ter certeza que realmente sabia. Transcrevo a definição dada pelo dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:

Maniqueísmo: dualismo religioso sincretista que se originou na Pérsia e foi amplamente difundido no Império Romano (sIII d.C. e IV d.C.), cuja doutrina consistia basicamente em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal), em localizar a matéria e a carne no reino das sombras, e em afirmar que ao homem se impunha o dever de ajudar à vitória do Bem por meio de práticas ascéticas, esp. evitando a procriação e os alimentos de origem animal.

Como derivação dessa definição, ser maniqueísta, é acreditar que o que é ruim é sempre ruim e o que é bom é sempre bom. Entretanto, sabemos que isso não é bem assim, mas como tendemos sempre a querermos "simplificar" as coisas, acabamos sempre 'etiquetando', 'classificando', as coisas segundo nossa visão, quase sempre, tacanha da realidade. E aí, com essa visão pequena do mundo, acabamos definindo o que é ruim e o que é bom. E parece que o que foi ruim um dia não poderá jamais ser bom e o que foi bom um dia não poderá jamais ser ruim...

Sempre me pego pensando, por exemplo, que uma pessoa que foi presa, condenada por um crime qualquer, está presa por, pelo menos, dois motivos. O primeiro é óbvio e natural: desde qe o julgamente não tenha sido forjado, ela está presa por ter cometido uma grande falha segundo o código de conduta da sociedade. O segundo, apesar de não funcionar do modo em que as penintenciárias são hoje, é para reabilitar o que cometeu o erro.

Mas, quem é que realmente acredita que depois de uma pessoa ter sido presa ela está recuperada? Mesmo que a pessoa saia da prisão e passe vários anos sem fazer nada de errado, na primeira oportunidade que o pegarmos fazendo algo ilícito, quase que imediatamente a maioria de nós iria pensar, "eu bem que sabia... pau que nasce torto, morre torto..."

Mas, será que é assim mesmo? Uma coisa que é ruim é só ruim, sempre ruim? Nunca pode mudar?

Não, naturalmente que não é assim. Pau que nasce torto não necessa-riamente morre torto. Pode até dar trabalho para consertar, mas se pode consertar. Quem já viu um Bonsai, aquelas mini árvores japonesas? Elas são feitas moldando a árvore original, não são sementes especiais não. Vai-se amarrando o tronco e os galhos e, com muita paciência, moldando para o tamanho que se quer...

Após o Tsunami na Ásia, muita gente sofreu, está sofrendo e ainda vai sofrer. Mas será que o Tsunami está na categoria de mal absoluto? Claro que não. Infelizmente, por sempre ligarmos o sofrimento ao mal, tudo que causa sofrimento, na nossa mente, é mal. E isso, mais uma vez não é verdade.

O que seria dos nossos dentes se não fosse a dor de dente para nos mostrar que algo precisa ser melhorado? Fazer reforma na sua casa é mau ou é bom? Na minha opinião é bom, mas quem já passou por uma reforma em casa sabe o quanto é "ruim" o momento da reforma em si. Poeira, sujeira, desarrumação... Mas quem ousaria dizer que depois de acabada a reforma a satisfação não supera tudo? Supera e a gente acaba percebendo que a mudança, a sujera, faz parte do bom de reformar uma casa.

E porque não dizer o mesmo da nossa vida? Quando realmente queremos mudar algo que está precisando fazer uma reforminha em nós, passamos por dificuldades, mas acabamos fazendo. Que o digam as pessoas que cada vez mais querem fazer cirurgias corretivas, operações plásticas, etc. E quem pensa que quando se sai da mesa de cirurgia já se volta a viver normalmente no outro dia, está totalmente enganado. Dependendo de como seja, a recuperação é longa e dolorosa, mas, como é algo que realmente queremos, acabamos aceitando a "sujeira da reforma".

Mas, por que quando precisamos mudar algo ético em nós não temos a mesma força de vontade? É nesse momento em que mais ouvimos a frase "eu sou assim mesmo... nunca vou mudar..."

O que há de errado conosco? Será que mudar o físico é mais importante que mudar o íntimo? Me parece que desde um bom tempo não tem sido mais importante apenas, mas tem sido a nossa única preocupação. Mudar o exterior. O interior, "ah, depois eu faço isso!".

Procuremos fazer conosco o que o Tsunami fez com as praias do sul da Ásia: destruamos nossas aparências, para podermos mostrar do que realmente somos feitos, o que realmente está por trás de nós. Reviremos nosso íntimo, levantando a poeira da inatividade para podermos descobrir verdadeiros tesouros escondidos dentro de nós. Pois, como disse Jesus, "Vós sois o Sal da Terra. Vós sois a Luz do mundo" e em outro momento disse "Vós sois deuses".

Descubramos a nossa verdadeira face, pois, escondido no mais íntimo de nós mesmos está Deus, basta sabermos procurá-lo. E não o encontraremos mudando o nosso exterior. O encontraremos mudando o nosso interior, procurando fazer diferença no mundo em que vivemos.

Nada se aperfeiçoa se não for se alterando aos pouquinhos. Façamos um pouquinho de cada vez. Pois, é de grão em grão que a galinha...

Chega de papo! Ajamos...

Comentários

Anônimo disse…
Olá amigo!!
Fico realmente impressionada como certos posts seu me tocam profundamente. Esse, por exemplo, foi um. Parece que tem dias que você escreve pra mim, sabe?!Aqueles momentos que você lê ou escuta coisas que cabem certinhas na sua vida. Pois é, acontece justamente comigo com relação a seus posts.
E por isso hoje eu passei aqui pra te agradecer por tudo o que você tem feito por mim mesmo incoscientemente. Que você continue assim, inspirado em tudo o que escreve, com essa bondade no coração que você tem, com essa simplicidade e simpatia.
Você é especial
Bjo
Anônimo disse…
belo o que escreveste. hj recebi uma mensagem de um amigo que tem como titulo faxina vou te mandar.
beijos
te amo...mainha

Postagens mais visitadas deste blog

"Beati pauperes spiritu quoniam ipsorum est regnum caelorum"

Mouse Aquático

Michelangelo, arte e aprendizado