É bom ou é ruim? Tem certeza?
A gente tende sempre a dividir as coisas entre boas e ruins. Já até falei sobre isso aqui em outro post. Entrar em coma , por exemplo. Tenho certeza que dificilmente entrar em coma é bom. E quando digo alguém me incluo na lista. (Ao lado capa do CD da trilha sonora do filme Coma, de 1978 - clique na figura para maiores informações)
Uma notícia ontem me fez pensar mais uma vez sobre essa relação entre o que é bom e o que é ruim. Mas vamos devagar antes de chegarmos ao ponto principal.
Dor. O que é a dor? A dor é uma sensação desagradável aos nossos sentidos físicos (quando física), e ao nosso espírito (quando moral ou psicológica). Mas, por ser desagradável, significa dizer que é ruim? E se sim, em todos os sentidos? Naturalmente que não. Tanto que, para diferentes pessoas, as dores são sentidas e percebidas de maneiras bastante diferentes. Isso vale inclusive com relação à intensidade com que ela se apresenta. Quem não já viu pessoas passarem por cirurgias bem complicadas e dizerem que estão sentido dor, mas que é uma dor aceitável e pessoas que às vezes dizem que têm dores de cabeça insuportáveis.
Sabemos que não podemos comparar quantitativamente as dores de pessoas diferentes, pois cada ser humano tem suas características físicas. Entretanto, e exatamente por esse motivo, podemos perceber que como pessoas diferentes sentem os mesmos tipos de dor e umas dizem sentir mais dor que outras, que algo tem que ser diferente para que isso aconteça. O que é que acontece então que faz com que uma pessoa sinta menos dor que outra?
Serotonina e endorfina. Essas duas substâncias (neurotransmissores) produzidas em nosso corpo são as principais fontes analgésicas das quais o nosso organismo se utiliza para reduzir ou ampliar a dor. Na acupuntura, por exemplo, para ajudar a combater dores agudas (que são dores de menor duração - de 1 dia a 2 meses), as agulhas são colocadas em pontos que ajudam a controlar os níveis de serotonina e endorfina para aliviar a dor. O cortisol, por outro lado, um hormônio também produzido pelo nosso organismo, não está vinculado diretamente à dor, mas está ligado à ação inflamatória. Entretanto, seu excesso prejudica o funcionamento do sistema imunológico que é o responsável por curar as feridas e, em última análise, a dor. Recentes pesquisas (que falei aqui em outro post) mostram que meditação, atitude positiva em relação às dificuldades da vida (ou seja, viver menos estressado) e uma vida mais religiosa, equilibram o nível de cortisol em nosso organismo, o que nos ajuda a superar melhor as dores.
Por que então as dores são diferentes nas diferentes pessoas? Pelo que mostrei acima, principalmente por cada organismo produzir quantidades diferentes dessas substâncias. E além da produção diferente, tem as diferentes causas da produção, que cada um gera de acordo com sua postura de vida.
Mas o que é que a dor gera em nós?
O que a gente "sente" ou "pensa" quando está com dor, também afeta a própria dor. E é fácil percebermos isso. Quando nos estressamos com o dia-a-dia nosso nível de cortisol aumenta. Como o cortisol controla nosso sistema imunológico, Com o aumento do cortisol no organismo, o nosso sistema imunológico fica deficitário e assim a nossa probabilidade de ficarmos doentes aumenta. Conseqüentemente aumenta a possibilidade de sentirmos mais dor. Assim, ao ficarmos estressados em excesso com a dor que estamos sentindo, a dor demorará mais tempo a passar. E, até deixando de lado considerações filosóficas, ficar estressado porque estamos com dor só tende a piorar a própria dor.
Assim, apesar de doer, a dor não é de todo mal. Sem a dor não saberíamos quando algo está errado e precisamos consertar. Teríamos sérios problemas para controlar infecções, para descobrirmos doenças, consertar atitudes erradas que geraram dor em nós próprios ou nos outros, etc. Dor, portanto está longe de ser má. Sou capaz de dizer que é boa, melhor até que a saúde. Calma... Não sou masoquista... É que com saúde, infelizmente, muita gente fica mais "descuidado", mais "irresponsável". Não quero sentir dor, mas, como diz a música de Legião Urbana, "tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentir dor". É filosófico, mas quando aprendermos a aceitar a dor como parte da nossa vida, certamente deixaremos de sentir dor. Por que? Por que quando a aceitarmos, ela deixará de ser dor.
Mas, o que é que eu queria falar mesmo? Já acho que até esqueci... :) Brincadeira!
Estava olhando a Folha de São Paulo Online e encontrei essa notícia sobre o coma. Quantos de nós já pensamos que o coma, ou estar em coma é ruim, é mal? É difícil, na verdade, não pensar isso. Principalmente porque a gente se coloca no lugar de quem está em coma e/ou pensa em alguém próximo estando na situação.
Será que o coma, com toda a explanação sobre a dor que fiz, pode ser bom? Tem um lado positivo?
A reportagem é sobre o coma do câncer. E não sobre um coma filosófico, mas sobre um coma real do câncer.
O pesquisador Colin Goding descobriu como parar o gene que controla a divisão exagerada de células cancerígenas do câncer de pele - melanoma. Ainda não sabe se servirá para todos os tipos de câncer, mas "Seria um grande passo poder criar drogas que reativam a senescência", disse o pesquisador Colin Goding. Senescência é a propriedade que o corpo tem de fazer com que, naturalmente, as células danificadas se reproduzam. O câncer acontece exatamente por que, por algum motivo, as células danificadas perdem essa capadidade de entrar em coma.
Naturalmente que a descoberta precisa ser bastante pesquisando ainda, como toda pesquisa séria em medicina e/ou na ciência de uma maneira em geral. Talvez ainda dez anos para que algum remédio possa ser realmente utilizado pelos doentes. Mas essa descoberta dá um passo adiante no que já se sabia até hoje sobre as células cancerígenas. E Dr. Goding finaliza dizendo que "além de revelar ângulos previamente não conhecidos, as descobertas ressaltam a crença de que é possível adormecer células cancerosas".
De repente, entrar em coma parece ser uma propriedade essencial à vida. E, mais uma vez, não sou masoquista, nem quero desejar mal, nem a mim nem a ninguém. Entretanto, sem o coma, todos seríamos cancerosos rapidamente. Será que o coma, afinal de contas é tão ruim? Creio que agora pelo menos iremos pensar duas vezes antes de falar sobre bem e mal de forma absoluta.
Sairmos do coma não significa que estaremos melhores. Mas estarmos realmente acordados, despertos, faz de nós mais capazes de crescer, de fazer a coisa certa. Mas qual é a maneira correta?, vocês podem perguntar. Cada um tem que achar a sua própria resposta, seu próprio caminho, mas existem algumas regras gerais tiradas da lição da dor acima.
Sejamos positivos, pensemos e ajamos no bem. "Façamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem". "O nosso modo de vida não deve trazer prejuízo a nada ou a ninguém". Não busquemos nos livrar da dor, procuremos nos livrar da inquietação interior, da busca pelo desejo, da busca pelas coisas passageiras. "Conhece-te a ti mesmo". Quando nos conhecermos profundamente e entrarmos em comunhão conosco mesmos seremos poderemos dizer que saímos do coma, da estagnação, da imobilidade. E aí faremos diferente das pessoas que dizem: "Eu não estou dormindo... mas isso não significa que estou acordado!"
Perdoem-me pelo longo texto, mas não posso me furtar de acrescentar esse poema belíssimo.
Acordemos! A Vida nos chama para a vida.
Uma notícia ontem me fez pensar mais uma vez sobre essa relação entre o que é bom e o que é ruim. Mas vamos devagar antes de chegarmos ao ponto principal.
Dor. O que é a dor? A dor é uma sensação desagradável aos nossos sentidos físicos (quando física), e ao nosso espírito (quando moral ou psicológica). Mas, por ser desagradável, significa dizer que é ruim? E se sim, em todos os sentidos? Naturalmente que não. Tanto que, para diferentes pessoas, as dores são sentidas e percebidas de maneiras bastante diferentes. Isso vale inclusive com relação à intensidade com que ela se apresenta. Quem não já viu pessoas passarem por cirurgias bem complicadas e dizerem que estão sentido dor, mas que é uma dor aceitável e pessoas que às vezes dizem que têm dores de cabeça insuportáveis.
Sabemos que não podemos comparar quantitativamente as dores de pessoas diferentes, pois cada ser humano tem suas características físicas. Entretanto, e exatamente por esse motivo, podemos perceber que como pessoas diferentes sentem os mesmos tipos de dor e umas dizem sentir mais dor que outras, que algo tem que ser diferente para que isso aconteça. O que é que acontece então que faz com que uma pessoa sinta menos dor que outra?
Serotonina e endorfina. Essas duas substâncias (neurotransmissores) produzidas em nosso corpo são as principais fontes analgésicas das quais o nosso organismo se utiliza para reduzir ou ampliar a dor. Na acupuntura, por exemplo, para ajudar a combater dores agudas (que são dores de menor duração - de 1 dia a 2 meses), as agulhas são colocadas em pontos que ajudam a controlar os níveis de serotonina e endorfina para aliviar a dor. O cortisol, por outro lado, um hormônio também produzido pelo nosso organismo, não está vinculado diretamente à dor, mas está ligado à ação inflamatória. Entretanto, seu excesso prejudica o funcionamento do sistema imunológico que é o responsável por curar as feridas e, em última análise, a dor. Recentes pesquisas (que falei aqui em outro post) mostram que meditação, atitude positiva em relação às dificuldades da vida (ou seja, viver menos estressado) e uma vida mais religiosa, equilibram o nível de cortisol em nosso organismo, o que nos ajuda a superar melhor as dores.
Por que então as dores são diferentes nas diferentes pessoas? Pelo que mostrei acima, principalmente por cada organismo produzir quantidades diferentes dessas substâncias. E além da produção diferente, tem as diferentes causas da produção, que cada um gera de acordo com sua postura de vida.
Mas o que é que a dor gera em nós?
O que a gente "sente" ou "pensa" quando está com dor, também afeta a própria dor. E é fácil percebermos isso. Quando nos estressamos com o dia-a-dia nosso nível de cortisol aumenta. Como o cortisol controla nosso sistema imunológico, Com o aumento do cortisol no organismo, o nosso sistema imunológico fica deficitário e assim a nossa probabilidade de ficarmos doentes aumenta. Conseqüentemente aumenta a possibilidade de sentirmos mais dor. Assim, ao ficarmos estressados em excesso com a dor que estamos sentindo, a dor demorará mais tempo a passar. E, até deixando de lado considerações filosóficas, ficar estressado porque estamos com dor só tende a piorar a própria dor.
Assim, apesar de doer, a dor não é de todo mal. Sem a dor não saberíamos quando algo está errado e precisamos consertar. Teríamos sérios problemas para controlar infecções, para descobrirmos doenças, consertar atitudes erradas que geraram dor em nós próprios ou nos outros, etc. Dor, portanto está longe de ser má. Sou capaz de dizer que é boa, melhor até que a saúde. Calma... Não sou masoquista... É que com saúde, infelizmente, muita gente fica mais "descuidado", mais "irresponsável". Não quero sentir dor, mas, como diz a música de Legião Urbana, "tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentir dor". É filosófico, mas quando aprendermos a aceitar a dor como parte da nossa vida, certamente deixaremos de sentir dor. Por que? Por que quando a aceitarmos, ela deixará de ser dor.
Mas, o que é que eu queria falar mesmo? Já acho que até esqueci... :) Brincadeira!
Estava olhando a Folha de São Paulo Online e encontrei essa notícia sobre o coma. Quantos de nós já pensamos que o coma, ou estar em coma é ruim, é mal? É difícil, na verdade, não pensar isso. Principalmente porque a gente se coloca no lugar de quem está em coma e/ou pensa em alguém próximo estando na situação.
Será que o coma, com toda a explanação sobre a dor que fiz, pode ser bom? Tem um lado positivo?
A reportagem é sobre o coma do câncer. E não sobre um coma filosófico, mas sobre um coma real do câncer.
O pesquisador Colin Goding descobriu como parar o gene que controla a divisão exagerada de células cancerígenas do câncer de pele - melanoma. Ainda não sabe se servirá para todos os tipos de câncer, mas "Seria um grande passo poder criar drogas que reativam a senescência", disse o pesquisador Colin Goding. Senescência é a propriedade que o corpo tem de fazer com que, naturalmente, as células danificadas se reproduzam. O câncer acontece exatamente por que, por algum motivo, as células danificadas perdem essa capadidade de entrar em coma.
Naturalmente que a descoberta precisa ser bastante pesquisando ainda, como toda pesquisa séria em medicina e/ou na ciência de uma maneira em geral. Talvez ainda dez anos para que algum remédio possa ser realmente utilizado pelos doentes. Mas essa descoberta dá um passo adiante no que já se sabia até hoje sobre as células cancerígenas. E Dr. Goding finaliza dizendo que "além de revelar ângulos previamente não conhecidos, as descobertas ressaltam a crença de que é possível adormecer células cancerosas".
De repente, entrar em coma parece ser uma propriedade essencial à vida. E, mais uma vez, não sou masoquista, nem quero desejar mal, nem a mim nem a ninguém. Entretanto, sem o coma, todos seríamos cancerosos rapidamente. Será que o coma, afinal de contas é tão ruim? Creio que agora pelo menos iremos pensar duas vezes antes de falar sobre bem e mal de forma absoluta.
Sairmos do coma não significa que estaremos melhores. Mas estarmos realmente acordados, despertos, faz de nós mais capazes de crescer, de fazer a coisa certa. Mas qual é a maneira correta?, vocês podem perguntar. Cada um tem que achar a sua própria resposta, seu próprio caminho, mas existem algumas regras gerais tiradas da lição da dor acima.
Sejamos positivos, pensemos e ajamos no bem. "Façamos aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem". "O nosso modo de vida não deve trazer prejuízo a nada ou a ninguém". Não busquemos nos livrar da dor, procuremos nos livrar da inquietação interior, da busca pelo desejo, da busca pelas coisas passageiras. "Conhece-te a ti mesmo". Quando nos conhecermos profundamente e entrarmos em comunhão conosco mesmos seremos poderemos dizer que saímos do coma, da estagnação, da imobilidade. E aí faremos diferente das pessoas que dizem: "Eu não estou dormindo... mas isso não significa que estou acordado!"
Perdoem-me pelo longo texto, mas não posso me furtar de acrescentar esse poema belíssimo.
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão
J. Darion - M. Leigh
Versão de Chico Buarque e Ruy Guerra
Acordemos! A Vida nos chama para a vida.
BBCBrasil.com - Cientistas põem em coma células que estão com câncer (em português)
Comentários
Eis aí um texto que poderia enriquecer o nosso site Planeta Jota como um essay by Mackenzie Melo, from Boston. É só o autor concordar.
Grande abraço,
Jomar