Vira-lata

Um tempo atrás conheci uma tirinha de quadrinhos pela qual me apaixonei. Mutts.

 
Mutt é a palavra em inglês que muito se aproxima da nossa expressão vira-lata, mas não no sentido de sujo ou mal cuidado, mas no sentido de mistura, animal com diversas raças misturadas em uma só.

O nome no plural indica a presença de diversos animais que interagem ou que aparecem sozinhos em suas elucubrações filosóficas e cômicas.

Essa tirinha já ganhou diversos prêmios e o criador de Snoopy, Charles Schulz, já desencarnado - falecido - certa vez falou que Mutts é "uma das melhores tirinhas de todos os tempos".

O que eu acho mais mágico acerca de Mutts é a capacidade que o seu criador - Patrick McDonnell - tem de, em apenas três quadrinhos (nas tirinhas diárias e às vezes alguns mais nas dominicais), escrever sobre amor, filosofia e riso de um modo que nos faz refletir e se sentir mais vivo, com uma maior conexão conosco mesmos e com a vida ao nosso redor.

Fiz a adaptação das tirinhas da semana de 12 a 18 de Maio de 2008 para colocar aqui para vocês apreciarem. Procurem por Mutts nos jornais que vocês têm acesso e se divirtam, cresçam e amem sempre mais com a ajuda dos personagens de Mutts.


Mutts, 18 de Maio de 2008 - Adaptação de Mackenzie Melo

Um abraço bem abraçado em todos.

🐶

Acima está a postagem original que, supostamente deveria ter ido ao ar em 2008. Não tenho como lembrar do porquê de ela não ter sido postada e também não consegui encontrar as outras tirinhas que iria traduzir, então fica apenas a do dia 18 de Maio.

Entretanto, o que me fez querer resgatar essa postagem não foi apenas o fato de ela ter sido iniciada e não utilizada, mas uma "coincidência", que aconteceu sem que eu, naturalmente, pudesse nem saber que iria acontecer.

Como falei no texto "original", amo a tirinha de Mutts. Dentre todos os personagens, o Guard Dog (cão de guarda) sempre foi o meu favorito. Mas era sempre uma judiação vê-lo acorrentado e sofrendo, apesar de buscar sempre ver o lado positivo das coisas.

Ano passado, perto do final do ano, o seu criador decidiu, depois de anos acorrentado, libertá-lo das correntes. E aproveitou para contar a história de sua libertação em 44 tirinhas. 

Assim, começando em Outubro e finalizando em Dezembro, o querido Sparky (esse é o nome que a pessoa que o adota dá a ele), finalmente se liberta de suas correntes e vai aprender o que é viver de maneira mais livre, mais completa, mais feliz.

A tirinha que permaneceu do texto anterior dá uma ideia da melancolia que é viver preso, mas que, também, podemos aprender, dentro da falta de liberdade, a sermos livres dentro dos limites impostos a nós. 

Isso é um grande ensinamento. Precisamos entender isso para podermos aprender a apreciar as limitações que nos "aprisionam". Não que não devamos buscar nos livrar delas, mas é imprescindível entender que não temos como fazer "tudo ao mesmo tempo agora" - lembrando aqui dos Titãs e sua música.

Podemos e devemos lutar por nossa liberdade, reconhecendo os nossos limites e ao mesmo tempo buscando ultrapassá-los, pouco a pouco, percebendo que, em algum momento o limite final chegará. Assim agindo, conseguiremos perceber, sem revolta, que fizemos todo o possível, tudo ao nosso alcance e que, agora, naquele momento, as coisas estão nas mãos de Deus.

Não tenho como traduzir todas as tirinhas, já que são protegidas por copyright e não quero infringir nenhum, mas colocarei aqui algumas poucas e o link para vocês lerem toda a história - infelizmente em inglês pois não consegui achá-las traduzidas.

A primeira (colocada como primeira no site) é essa:

Mutts, 12 de Outubro de 2023 - Adaptação de Mackenzie Melo (veja comentário no P.s.1)

Como pode, em apenas três quadros e alguns "rabiscos", passar tanta emoção? A magia do saber contar uma história é algo que me fascina, ainda mais quando feita com maestria como Patrick faz.

Uma das magias da história de Sparky é que não sabemos quem é seu dono - eu pelo menos não sei - o que faz com que possamos pensar em o que, ou quem, é que coloca a corrente. Será que podemos ser essa pessoa? Será que somos essa pessoa?

Aqui a segunda (a primeira da história em si):

Mutts, 01 de novembro de 2023 - Adaptação de Mackenzie Melo

É incrível o quanto de sentimento pode haver em relações com os animais. Temos, lá em casa, a nossa Juju - Ana Júlia - que foi também, como Sparky, resgatado de uma situação difícil em que se encontrava, presa em uma jaula de onde não saia. Quando de lá saiu, praticamente nem sabia andar direito. Não conseguia subir escadas, estava completamente suja - ela é bicolor, preta e branca, mas quando chegou lá em casa estava amarela (literalmente) e preta. Que dó. Isso foi em Maio de 2013 e hoje ela ainda está conosco. Alegre, comilona e dorminhoca. Aqui ela nos primeiros dias lá em casa:


Ana Júlia, 31 de Maio de 2013

Fico pensando se o que passava pela cabeça dela não era algo semelhante ao que passou na cabeça de Sparky depois que ele foi salvo das correntes que o aprisionavam...

Mutts, 11 de dezembro de 2023 - Adaptação de Mackenzie Melo

Disse o Dalai Lama - inclusive citado parcialmente pelo próprio Patrick McDowell em uma das tirinhas dessa série - que "Nós não podemos jamais esquecer o sofrimento que humanos infligem em outros seres. Talvez, um dia, nós nos ajoelharemos e pediremos perdão aos animais por isso."

Cuidemos do todos ao nosso redor, dentro de nossas possibilidades. Caso não possamos cuidar, pelo menos não pioremos a situação, agredindo ou mesmo criticando aqueles que querem fazer o bem, fazer a sua parte.

Leia, se conseguir - e mesmo se não conseguir ler, veja - a história da libertação de Sparky e se emocione com a ficção de Mutts que, certamente, tem muita semelhança com a realidade de muitos animais ao redor do mundo.




Mackenzie Melo
Texto original começado e "terminado" em 02 de junho 2008
Modificação e adições em 09 de Abril 2024
Postado em 10 de Abril 2024

P.s.1: traduzir - ou adaptar, como prefiro chamar - é uma tarefa difícil. Quem já tentou sabe do que estou falando. No caso da tirinha acima, tive que escolher uma das duas opções para a palavra inglesa free: grátis ou livres. Como ela tem essas duas conotações, a oração final do Guard Dog é complexa e traz dentro de si ambos os sentidos, o que faz total sentido e adiciona uma complexidade à história do personagem que é difícil de adoptar para o português. Sendo estranho dizer que a Lua é grátis e passar o sentido de liberdade que o personagem requer, escolhi livres.

P.s.2: a postagem iria ser curta, de verdade. Entretanto, parece que quanto mais pensava sobre as tirinhas, mais lembrava de coisas e mais queria escrever, mas via que estava ficando logo demais... Tive que parar deixando de fora muita coisa.

P.s.3: mas preciso citar aqui que Juju não foi o primeiro cachorro que tive. O outro, quando era criança, se chamava Tobi e era um capeta lá em casa... :) Não lembro de muita coisa, mas sei que a gente enlouquecia com ele. Infelizmente ele morreu atropelado e isso deixou marcas. Talvez conte essa história outro dia!

P.s.4: hoje é o aniversário de uma pessoa que foi muito importante na minha vida. Quer dizer, de algumas pessoas muito importantes, mas uma essencial, fundamental. Vovô Melo, José Euclides de Melo, meu avô paterno teria completado anos hoje, mas ele já esté no mundo espiritual, juntamente com todos os meus outros avós, que também já partiram. São eles: José Euclides de Melo e Maria Dagmar Falcão de Melo e Antônio Mendes e Áurea Nogueira Mendes, pais de minha mãe. Obrigado, voinhos!

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